03/02/2016

Introdução - A Verdadeira Videira

Evangelho de São João  - Capítulo 15, versículo 01“Eu sou a verdadeira videira e o meu Pai é o lavrador.”


Tanto o AT (Antigo Testamento) quanto o NT (Novo Testamento) utilizam-se inúmeras vezes das plantas como simbolismo do povo de Deus, a fé e outros pontos importantes da Bíblia. O salmista faz comparação do justo com a “árvore plantada a beira do rio” (Sl 1,3). Jesus utiliza-se em suas parábolas tanto das plantas, quanto dos semeadores (Lc, 9-19). Ele compara a fé a um grão de mostarda (Mt 17,20), a palavra de Deus a uma semente lançada na terra (Lc 8, 4-8) fala dos lírios do campo (Lc 12,27) e amaldiçoa a figueira que não produz figos (Mt 21, 19-22).
Uma vez que as uvas eram cultura de subsistência na Palestina, não causa surpresa que o Senhor usasse a videira como um símbolo de seu povo, Israel (veja Salmo 80: 8-16; Jeremias 5, 10; 6,9; Ezequiel 15 1-8; 19, 10-14). As imagens da videira simbolizavam o fracasso de Israel em cumprir as expectativas do Senhor (Oséias 10, 1-2). Suas uvas (Israel) eram selvagens e sem valor, e apesar do cuidado do Senhor com sua vinha (Isaías 5, 1-7) Israel fracassou. De todas as plantas, Jesus Cristo escolheu a videira com quem se compara (João 15,1) porque Sua missão é cumprir o chamado e destino de Israel: obedecer à vontade do Pai.
Nenhuma outra planta, talvez, expresse tão bem a complexidade do ser humano. A escolha de Jesus para a comparação da videira e sua igreja (os fiéis) dá-se principalmente pela forma com que é cultivada a videira e como a fé e o espírito do fiel devem ser cultivados. Há ainda diversos pontos em que a videira se assemelha ao cristão. Ela é fortemente influenciada pela temperatura, pela forma com que é podada, e a diversidade de frutos por causa do terreno e das condições a que foi cultivada. A videira é sensível a todos os fatores externos, e pode ser bem sucedida ou mal, dependendo de como reagirá aos fatores externos. No entanto, o mais importante é o fruto que ela produz que vem se tornar o “vinho”, o “sangue de Cristo” (Lucas 22, 18-20) e a salvação do mundo. É, portanto, o fruto da Verdadeira Videira a Salvação do Homem.

A VIDEIRA





A vinha, videira ou parreira é uma trepadeira da família das vitáceas, com tronco retorcido, ramos flexíveis, folhas grandes e repartidas em cinco lóbus pontiagudos, flores esverdeadas em ramos, cujo fruto é a uva do qual se produz o vinho.
O cultivo da videira para a produção de vinho é uma das atividades mais antigas da civilização. Evidências indicam o  cultivo da videira para a produção de vinho na região do Egito e da Ásia Menor durante o período neolítico, mesmo período em que a humanidade, instalada em colônias permanentes, começou a cultivar alimentos e criar gado, além de produzir cerâmica. Não se pode apontar precisamente o local e a época em que o vinho foi feito pela primeira vez, do mesmo modo que não sabemos quem foi o inventor da roda. Há 2 milhões de anos já coexistiam as uvas e o homem que as podia colher. Escavações na Turquia, em Damasco na Síria, no Líbano e na Jordânia revelaram sementes de uvas da Idade da Pedra cerca de 8000 a.C. Há inúmeras lendas sobre onde teria começado a produção de vinhos e a primeira delas está no Velho Testamento. O capítulo 9 de Gênesis diz que Noé após ter desembarcado os animais, plantou um vinhedo do qual fez vinho, bebeu e se embriagou. A questão mais complicada é onde morou Noé antes do dilúvio. Onde quer que ele tenha construído a Arca, ele tinha vinhedos e já sabia fazer o vinho. As videira, logicamente, faziam parte da carga da Arca.
“Eu sou a vinha vós sois os ramos: aquele que permanece em mm e no qual eu permaneço, esse produzirá frut. Em abundância, pois, separados de mim, nada podeis fazer” (João 15,5)
No Evangelho de São João, Jesus está se definindo. Ele é a vinha, a videira. Ele já havia nos dito “Eu sou a luz do mundo “ (Jo 8, 12), sou a fonte de Água Viva (Jo 4, 13-14), sou o Bom Pastor (Jo 10,14), a ressurreição e a vida, eu sou o Pão da Vida (Jo 6,48). Esse mesmo Jesus também diz: “Eu sou a Videira”. Aqui Ele acrescenta algo muito importante: “E vocês são os ramos”. Jesus define a si mesmo e também a nós. Ele mostra qual é a interdependência que há entre ambos. Os ramos não vivem sem a videira. Na língua original, Ele não disse “videiras”, mas “cepa”. Não é uma palavra muito comum, mas é a palavra certa, técnica. Repare em uma videira, ela tem um tronco nodoso bem próximo a terra: é a cepa. Desse tronco de “nós”, saem os ramos. Estes, então, vão se esgalhando. A videira precisa de um suporte para poder se esgalhar, pois são nos ramos que surgem os cachos de uvas. Jesus diz: Eu sou a cepa, esse tronco da videira. E você é o ramo. A cepa não produz fruto, a não ser por meio dos ramos. Mas os ramos não poderão produzir frutos se não estiverem unidos à cepa da videira. Isso é a interdependência.
A videira por sua vez é uma planta que precisa de cuidados especiais, haja em vista que qualquer influência externa implica na qualidade do seu fruto. Para cuidar da videira o Pai  se coloca como o lavrador que ama a árvore que ele plantou e cultiva. Ninguém conhece melhor a videira que seu lavrador, como Jesus mesmo disse “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem alguém conhece o Pai senão o Filho(...)” (Mateus 11,27). O Pai zela pela a videira e a qualidade de seus frutos. Quando estamos em Cristo, fazendo a sua vontade, ou ao menos nos esforçando por ela, o Pai cuida de nós. Deus quer que ada um de nós dê fruto, e Ele nos dá condição para que isso aconteça, não exigindo de nós nada além do nosso alcance, pois Jesus afirmou que seu julgo é suave e seu peso é leve (Mateus 11, 29).
Conhecer mais da videira nos ajudará a descobrirmos a forma correta de permanecermos em Cristo dando os frutos que ele anseia de nós. Por isso, ao longo deste livro, nós analisaremos diversos aspectos da videira procurando neles lições para nossa vida. Espero, sinceramente em Deus, que no final deste livro, possamos ter nossas vidas transformadas, nos interligando cada vez mais ao Cristo, sendo totalmente dependentes de uma nova, sincera e profunda intimidade.

“Mas agora libertados do pecado e feitos escravos de Deus, produzis frutos de santificação, e o seu resultado é a vida eterna”. (Romanos 6, 22)